No contexto dos resultados revelados pela GfK, no início de janeiro de 2023 e os quais partilhámos na nossa newsletter do passado dia 13 de janeiro, o Presidente da APEL, Pedro Sobral, deixa algumas reflexões sobre os números de 2022 e os desafios e oportunidades para 2023.
Esta notícia tem quase um mês e dá alento. Mas que não deixa de ilustrar algumas das fragilidades do mercado do livro:
1- A compra de livros em Portugal é ainda maioritariamente feita no Natal o que prova a sua utilidade como presente e não como leitura pessoal.
2- 26.2% do valor gerado é pelo livro infantil juvenil o que aparenta ser meritório, mas que tem muito também da componente “presente”.
3- Apenas 40% dos livros vendidos são de ficção sendo que 18,2% são de ficção infantil juvenil. Isto é, apenas 28.1% dos livros vendidos são ficção categorizada como adulta. Nos países europeus onde os índices de leitura são iguais ou superiores à média europeia, a proporção é inversa, isto é, a maior parte dos livros vendidos (adultos e infantojuvenis) são de ficção.
4- Os livros importados aumentaram e muito o seu peso no valor total de mercado o que coloca os editores portugueses ainda com mais pressão. Também nos mostra novas oportunidades: 1- Leitores mais novos, mais entusiasmados, mais conectados com a experiência da leitura em papel e na frequência das livrarias e da Feira do Livro de Lisboa como espaços de intermediação, de convívio e partilha.
Aliás o canal de livrarias adquiriu ainda mais peso nas vendas totais em 2022.
2- Uma alteração veloz no perfil de consumo de tipo de livros trazendo novas categorias e novos tipos de livros e de leitura.
3- Um novo tipo de autor e escritor que traz os seus originais através de canais outrora desconhecidos.
4- A enorme influência positiva das redes sociais na promoção, comunicação e venda de livros esquecidos e enterrados nos fundos de catálogo que voltam aos escaparates dos pontos de venda.
5- Novos editores, novas livrarias que ganham o seu espaço através de novas formas de edição e de trabalho com o livro e criando uma dinâmica viva com os editores e livreiros que já estavam no mercado.
6- Novas plataformas de conteúdos digitais de conteúdos em ebook e audio com modelos de subscrição muito alinhados com as novas formas de consumo de conteúdos. Estas oportunidades que foram criadas unicamente pelos autores, editores, livreiros e leitores serão apenas estabilizadas e parte de um crescimento dos índices de leitura e literacia sustentado a longo prazo se, agora, forem criadas políticas públicas capazes de estruturar estes momentos e de as incorporar na estratégia de desenvolvimento da sociedade.
Políticas como o cheque livro de 100 euros, a taxa excecional de IVA a 0% para o livro e o reforço de orçamento para a compra de livros em papel para as bibliotecas são mais que nunca prioritárias para ajudar a resolver as fragilidades apontadas em cima e ao mesmo tempo tornar estas oportunidades aqui resumidas em bases de sustentação a longo prazo de mais e melhores índices de leitura e literacia em Portugal.
Os editores e livreiros fizeram a sua parte. Espero que o resto venha em breve e em 2023.